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Por: paulo maia
Uma esperança veio me visitar, ou melhor, um gafanhoto. É assim que ele é catalogado pela humanidade. A esperança é uma espécie de gafanhoto, um membro da família dos lucustídeos, da ordem do orthopdera, em suma, um inseto!
Pode até ser um inseto, mas é uma esperança e das grandes, bem verde! Verde forte e marcante que me leva a lembrar de Clarice Lispector. Se ela aqui em minha casa estivesse, pena que não está, declamaria: “ … pousou uma esperança, não a clássica que tantas vezes verifica-se ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre, mas a outra, bem concreta e verde: o inseto”.
Foi rebuscando este poema, “Uma Esperança”, da ucraniana mais brasileira que já se viu por estas terras, que iniciei esta reflexão.
Como me interesso naturalmente por este assunto e também me sinto naturalmente mais próximo para escrever sobre este tema, vejo que o inseto por muitas das vezes, só por ter esta nomenclatura, já traz nele o triste destino de viver sendo execrado. De ser o eterno rival do homem. Causa asco e tem, coitado, por causa disso, a sina do amargo fim de sempre: ser pisoteado na próxima esquina ou levar um tapa em pleno exercício de locomoção, causando lhe uma morte súbita!
Não sei se você concorda comigo, mas até onde, do pouco da vida que sei, nunca vi ou soube de alguém que em um só gesto derrubou e liquidou uma esperança sem dó nem piedade, ou até mesmo uma borboleta que, no passado, fora um inseto rastejante.
A vida tem destas coisas, talvez me soprasse no ouvido algum abstrato poeta, e a resposta viria no concreto: mas isso é especismo! Então, meu caro leitor, veja se você é um especista ou não.
Me recordo da confusão em que me vi envolvido quando conheci um sujeito que ostentava na popa de sua magnífica lancha um marlim azul empalhado como troféu por ter MATADO o maior peixe da competição. Sem saber que ele era o dono da festa da qual eu participava, perguntei ao grupo que me cercava o que levava um homem a tirar a vida de um peixe daquele tamanho se o resultado era tão somente um troféu na estante. O silêncio foi estarrecedor e eu, obviamente, deixei a festa.
Nunca imaginei que fosse tão difícil explicar para as pessoas que aquele velho e gigantesco marlim azul tem o mesmo valor de um cachorro de estimação, de um gato de estimação, de um homem de estimação.
Uma baleia cruzando os mares não pode e não deve ter menos valor do que um cão correndo em um parque. Uma ave rasgando o céu em busca de seu destino não pode e não deve ter menos valor do que um gato deitado em um ambiente afortunado e nem tão pouco tem menos valor um jegue, que passa a vida carregando peso, do que um cavalo que corre em uma pista de hípica, adestrado pelo seu dono, para lhe trazer fortuna. Isto é especismo!
Será que o urubu não seria admirado, não pela beleza que não possui, claro, mas pela rara inteligência que, em muito, deixa para trás uma arara Canindé que, excetuando a sua beleza, perde de longe para a inteligência da ave preta?
Já imaginou o que seria do leão se não fosse o tal do especismo que cega e torna fútil um sentimento tão nobre que é o de simplesmente amar os animais, sem restrição? Todos os felinos são lindos! E o leão também é, mas daí dizer se tratar de um rei, é coisa do homem!
Agora, se o calendário Maia estiver certo e o nosso mundo cair, devemos clamar pela afirmação dos jurássicos Titãs que perpetuaram que, aqui, só Bichos Escrotos é que vão existir.
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