Como se escreve ‘COMPANHEIRO’ na língua de Ahmadinejad?

[EXPAND Saiba mais]

Por: Paulo Maia

O substantivo companheiro, embora distorcido pelo presidente do nosso país, quando no início deste mês, em palanque eleitoreiro, chamou de “Companheiro” o hoje senador Fernando Collor de Mello, tem como significado maior em nossa língua um sentido que parece não se adequar à realidade deste fato.

Como também não se adequa à realidade dos fatos o presidente de uma nação democrática como o Brasil chamar de “Companheiro” o ditador Mahmoud Ahmadinejad, presidente iraniano que nega o holocausto, subestima as mulheres, persegue os homossexuais e afaga a guerra nuclear, enriquecendo o urânio em 20%, mesmo sofrendo sanções promovidas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

 

O contraditório desta história é que os companheiros da nação cubana são ignorados quando estão perdendo suas vidas para uma ditadura, sob o argumento de que “não devemos nos intrometer nas questões da soberania dos países”, o que se torna no mínimo constrangedor quando vem à mente que o “Companheiro” Manuel Zelaia teve “emprestada” a embaixada do Brasil, em Honduras, para se esconder, quando viu falida a sua tentativa de tentar estender o seu desastroso mandato de presidente naquele país.

 

Em nossa língua, o sentido real da palavra companheiro é aquele que é colega, que é camarada, que acompanha.

 

Pode-se pensar que a real intenção da autoridade maior da nossa nação foi chamá-los de comparsas, substantivo que tem em seu significado maior se tratar de pessoas que, em qualquer negócio, representam um papel insignificante.

 

Senão, como conseguir entender esta aberração do nosso presidente, que parece buscar dar significado ao que é inadmissível e ignorar o que todos vêem. Como alguém que tenha índole pode querer ter como colega um presidente que tentou rasgar a Constituição de um país em seu próprio benefício? Como alguém pode querer ter como camarada um presidente que apregoa o bélico prestigiando a dor e a agonia? Como alguém pode imaginar ter como companhia um ex-presidente de uma nação deposto pelo povo e ter como companheiros dois ex-presidentes do Senado que, envolvidos em escândalos financeiros, renunciaram para não serem cassados? Só podemos entender esta lógica quando imaginamos que alguma coisa está fora da ordem.

 

Aprendemos desde cedo que honra e ética são amigas do homem de bem e que matar, roubar e corromper são ações praticadas por marginais.

 

Diante desta situação, nunca antes vista na história do nosso país, que tenta a qualquer custo igualar todos os homens e onde a lógica implementada é a de que os fins justificam os meios, devemos nos questionar o quanto de maléfico isso já nos trouxe e ainda trará para nossa frágil sociedade. A catástrofe moral advinda com essa troca de valores nos traz uma tormenta tão grande que, sem percebermos, nos tornamos passivos sem sequer questionar a respeito dos fatos.

 

Vale lembrar que no ano de 1988 perdemos, assassinado, um verdadeiro líder que em muito nos ajudaria, pelo simples fato de que apregoava a decência como valor maior. Chico Mendes, imbuído de honra e ética, sucumbiu a tiros nos seringais do Acre porque revelava a verdade. E, em sua integridade moral, pedia que nos manifestássemos em busca da verdade. Verdade esta que o nosso governante tenta nos esconder impondo os seus equívocos, mas que caem por terra quando, por exemplo, observamos o descaso com o nosso meio ambiente.

 

Enquanto o Ministério do Meio Ambiente alardeia na mídia números incorretos sobre a queda nos desmatamentos e nas queimadas de nossas florestas, o que temos de real é que parece que estamos vivendo em uma terra sem lei.

 

Em nosso país, segundo a coluna Panorama Político, da jornalista Miriam Leitão, em dez anos os desmatadores destruíram 260 hectares na Mata Atlantica, ou 2,6 mil km², o equivalente a duas cidades do Rio; e 176 mil quilometros km² na Amazônia, área maior que toda a Inglaterra. Em sete anos, afirma a coluna, foram 85 mil km² de cerrado; 4,3 mil km² no Pantanal e 16,5 mil km² na caatinga. E o que o nosso Congresso está discutindo não é como parar o crime, mas como perdoar os criminosos, concretiza a colunista.

 

Diante deste cenário, onde criminosos e companheiros parecem ter o mesmo sentido, só nos resta a perplexidade. A não ser que no idioma de Marmond Ahmadinejah e seus seguidores, companheiro tenha uma justificativa não encontrada nas línguas portuguesa e espanhola e, assim, maléficamente, possam nos convencer de que não adianta tentar mudar este quadro que já está entranhado como um câncer que necrosa a olhos vistos e que irá adoecer toda a nação, levando à morte jovens inocentes que sequer ficaram sabendo que, contra uma política sórdida, existia um antídoto eficaz chamado valor moral, onde homens e mulheres, companheiros ou não, de verdade, se respeitavam mutuamente.

 

PAULO MAIA É JORNALISTA, AMBIENTALISTA, DIRETOR PRESIDENTE DA ONG SOS AVES E CIA.

[/EXPAND]

Esta entrada foi publicada em Blog. Adicione o link permanente aos seus favoritos.