Repudia ao assassinato de pombos no Rio de Janeiro

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Por: Paulo Maia

“Aos pombos… a ode”
A cena aconteceu em frente a uma igreja, no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro, com pombos, cerca de 100, despencando do céu e agonizando no chão, após ingerirem comida contaminada que os levaram a triste morte. Em uma escala menor, esta cena se repete a todo momento e em qualquer lugar de nosso país. O pombo é uma praga! Envenene-o!
Em nossa cultura, infelizmente, as aves são vistas como enfeites. Para algumas pessoas, elas não possuem vida própria, muito menos sentimentos, e servem para alimentar seus estômagos ou seus bolsos, sendo vendidas em feiras livres ou enviadas para países ricos, pelo tráfico internacional de animais, que só perde em número para o tráfico de drogas e armas.
Os pombos, além de “enfeites” que adornam os convites de casamento e representam a paz, o sentimento maior que o homem busca desde o início de sua existência, são a concretização do Espírito Santo. Diante disso, me ponho a imaginar se representassem o ódio. Não teriam somente a má sorte do envenenamento e, sim, seriam incinerados, todos, vivos.
Em uma nação onde, inacreditavelmente, ainda falta ao cidadão a escola, a comida e a casa não é tão difícil acreditar que lhe falte o simples conhecimento sobre transmissão de doenças, o que também não lhe é oferecido pelo governo pelo simples fato de que este não faz a parte que lhe cabe.
Em algum dado momento de nossas vidas, passaram a atribuir ao pombo a infelicidade de ser transmissor de várias doenças e, daí, a busca de seu extermínio à luz do dia, de forma dramática, sem que nenhuma autoridade se manifeste para esclarecer o assunto e trazer a verdade. Muito pelo contrário, em algumas ocasiões, foram eles os grandes incentivadores da matança.
A SOS AVES E CIA possui um abaixo assinado com mais de sessenta assinaturas de médicos veterinários e seus respectivos CRMVs que afirmam, categoricamente, que nenhuma doença é exclusiva do pombo, não existindo, portanto, a temerária “doença do pombo”.
Vale lembrar que é dever do estado manter doenças sob controle, mas isso se torna questionável em um pais onde pessoas, ainda em nossos dias, morrem de dengue, doença esta que, no passado, já havia sido erradicada de nossa sociedade.
Os animais sob controle de uma vigilância sanitária não representam nenhum perigo à saúde pública, mas parece ser mais fácil fechar os olhos diante de tanta crueldade e apresentar um discurso fácil e equivocado a fazer um trabalho sério, sem aventuras políticas, ouvindo os médicos veterinários e informando à população a realidade dos fatos, revertendo, assim, este triste quadro.
Estarrecido naquela calçada, sob um céu azul, olhando os símbolos da paz despencarem envenenados sobre minha cabeça sem que nada mais pudesse ser feito, me remeteu aos símbolos da inocência perdida que não passavam de jovens brasileirinhos quando perderam suas vidas na porta da Candelária por, talvez, terem como doença incurável a pobreza, sem que nada tenha sido feito para salvá-los.
 
PAULO MAIA É JORNALISTA, AMBIENTALISTA, DIRETOR PRESIDENTE DA ONG SOS AVES E CIA.

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