A antiga novidade

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Por: Paulo Maia

Ganha a briga quem bate primeiro, está no dito popular. O amante que trai é o primeiro a levantar a voz em um claro intuito de tentar fazer calar a parte questionadora e, se assim não conseguir, passa a usar a força bruta, machucando, ferindo e levando até a morte aquele que amou mas que se tornara um inconveniente.
Em nossa cultura, toda vez que se fala em erro, infelizmente, ao invés de se tentar buscar o acerto, culpa-se o outro pelo feito. Parece mais fácil, mas o tempo tem revelado o contrário.
A governadora Ana Júlia Carepa, do estado do Pará, um dos mais pobres de nossa Federação, com índice de miserabilidade capaz de deixar de boca ainda mais aberta os famintos dos países miseráveis, finalmente veio a público falar de Belo Monte, a usina hidrelétrica que será construída em seu estado, deixando um rastro de destruição para a humanidade e, como era de se esperar, fez uma reflexão sobre o problema atacando aqueles que defendem a não construção da usina: “…aqueles que já destruíram suas próprias florestas têm apregoado que Belo Monte destruirá nossa Amazônia. Conhecem pouco nossa realidade. É evidente que o nosso estado, o Pará, não se transformará no maior gerador de energia do país sem sofrer algum impacto…” (???)
Como disse lá no início, ganha a briga quem bate primeiro, e eles venceram. Não só porque bateram primeiro, como ainda continuam batendo e tentando esconder fatos relevantes, mostrando outros que em nada acrescentam na discussão deste enorme mostrengo que, a princípio, seria implantado há cerca de 20 anos atrás e que, ironicamente, era combatido pelo partido da governadora, não por conhecimento e defesa de causa, mas por mesquinharia política que se revela agora na pequena lembrança de que não importa o que seja feito porque somos do contra.
Na defesa de sua causa, Ana Júlia afirma que “encontrou o modelo de desenvolvimento sustentável sem destruir tanta floresta, como muitos países fizeram”, insistindo ainda em atacar ao invés de ajudar a solucionar a peleja. Teria sido extremamente útil ter avisado esta “descoberta de modelo sustentável” a todos, inclusive aos ambientalistas e defensores da terra pois, assim, vidas como a da missionária Doroty Stang teriam sido poupadas e latifundiários, especuladores, invasores, desmatadores e matadores de aluguel seriam detidos e exemplarmente condenados.
Finalizando o seu desastroso e atrasado argumento, a governadora é categórica ao afirmar: ” Nossa ação tem ido desde um zoneamento econômico ambiental até a sistematização da educação ecológica nas escolas.” (???) Não fosse o fato do estado do Pará ser o estado que mais emite CO2 por causa do desmatamento, o que interfere diretamente no aquecimento do planeta, essa última declaração teria sido menos constrangedora.
Quem sabe é este “novo modelo de sustentabilidade” que o ex e futuro ministro do meio ambiente, Carlos Minc, use para toda hora alardear na imprensa que o desmatamento da Amazônia este mês caiu 48 por cento, na semana passada caiu 60 por cento. Carlos Minc, alguma notícia séria sobre o meio ambiente? Diz aí que o desmatamento hoje, ou melhor, ontem, caiu… 20 por cento. Não, diz que caiu 80 por cento. De vinte a oitenta… o senhor está indo de um extremo ao outro. Diz então que caiu 50 por cento. Pronto. Estamos na média! De um ministro que, em dezembro último, participou da Cop 15, na Dinamarca e se calou deixando que Dilma Roussef, candidata a presidente do nosso país e chefe da maior delegação, cerca de 800 pessoas, tomasse o seu pronunciamento e, inacreditavelmente, anunciasse ao mundo que ” o meio ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável!”, não se pode esperar muita coisa.
Em meio a tanta dúvida e imposição, o que podemos esperar, ainda, do grupo que venceu a licitação para a construção da usina mas que responde a processos nos estados de Tocantins, São Paulo, Mato Grosso do Sul e do próprio Pará, depois que deixou um rastro de denúncias de crimes trabalhistas e ambientais? Um pronunciamento afirmando possuir ” a descoberta de um novo modelo sustentável”? Infelizmente, esta resposta virá depois que homens, mulheres, animais, culturas e meio ambiente forem aniquilados quando, como era do conhecimento de todos, para uma simples distribuição de energia, havia outras soluções sem agredir nada e ninguém.
Ps. Usar um discurso fácil e demagogo, chamando os ambientalistas críticos deste projeto para plantarem árvores, é o mesmo que não tomar conhecimento de que uma adolescente pobre e analfabeta ficou encarcerada por dias em uma prisão, saciando a sede sexual de vários detentos.

PAULO MAIA É JORNALISTA, AMBIENTALISTA, DIRETOR PRESIDENTE DA ONG SOS AVES E CIA.

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